Por Juliana Americo

O desmatamento e o risco à segurança energética no Brasil: como enfrentar esse desafio?

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O desmatamento na Amazônia compromete não apenas as florestas, mas também serviços ecossistêmicos essenciais que sustentam a segurança energética no Brasil. A floresta amazônica é um pilar para a manutenção dos “rios voadores”, correntes de umidade que alimentam os regimes de chuva necessários para abastecer os reservatórios hidrelétricos em todo o país.

Um estudo [1] recente do Climate Policy Initiative/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio) revelou uma conexão alarmante entre desmatamento e geração de energia hidrelétrica, destacando os impactos econômicos, operacionais e climáticos dessa destruição.

Impactos do desmatamento no setor elétrico

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De acordo com o estudo [1], os efeitos do desmatamento já estão se refletindo em perdas significativas:

  • Na UHE Teles Pires (MT), a redução da cobertura florestal resultou em uma queda de até 10% na geração mensal de energia, acumulando prejuízos de R$ 118 milhões ao ano.

  • Na UHE Salto (PR), as perdas chegaram a 3% na geração, comprometendo 10% do lucro anual da operação.

Esses dados reforçam como a destruição florestal não afeta apenas o meio ambiente, mas também a estabilidade econômica e a resiliência da matriz energética nacional.

Além disso, a intensificação de eventos climáticos extremos, como secas severas e irregularidades no regime de chuvas, agrava ainda mais a vulnerabilidade energética do Brasil.

Biodiversidade como métrica e objetivo em reflorestamento

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Embora a restauração e a conservação florestal sejam reconhecidas como soluções para mitigar os impactos do desmatamento, é fundamental que esses esforços sejam direcionados não apenas à recuperação da cobertura vegetal, mas também ao retorno e à proteção da biodiversidade.

A biodiversidade desempenha um papel crucial nos serviços ecossistêmicos que sustentam a estabilidade climática e os ciclos hídricos. Sua inclusão como uma métrica central em programas de reflorestamento e conservação é essencial para garantir o sucesso a longo prazo desses projetos.

Por que medir e priorizar a biodiversidade?

  • Indicador de qualidade do ecossistema: A presença de espécies-chave em áreas restauradas é um indicador confiável da recuperação ambiental.

  • Resiliência ecológica: Ecossistemas biodiversos são mais capazes de se adaptar às mudanças climáticas e de fornecer serviços essenciais, como regulação de água e proteção contra erosão.

  • Valorização de projetos ambientais: A biodiversidade como componente mensurável pode aumentar a relevância de projetos de restauração nas iniciativas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) e tendem a receber um prêmio maior no mercado de carbono.

Como tornar a biodiversidade um alvo em projetos de restauração e conservação?

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Para que a biodiversidade seja integrada como um objetivo claro em iniciativas de conservação e restauração, é necessário:

  • Monitoramento contínuo: Avaliar regularmente a recuperação da fauna e flora nativas para identificar avanços e ajustes necessários.

  • Mapeamento de áreas prioritárias: Identificar regiões onde a restauração pode ter maior impacto na biodiversidade, nos ciclos hídricos e na resiliência climática.

  • Uso de dados científicos: Incorporar tecnologias que permitam identificar espécies presentes e ausentes em áreas restauradas, garantindo que a recuperação seja efetiva.

    Ao restaurar a biodiversidade, as iniciativas de reflorestamento se tornam um mecanismo estratégico de mitigação climática e de segurança energética.

    Rumo a soluções integradas

    O desmatamento é um desafio complexo, mas a inclusão da biodiversidade como métrica e objetivo nos esforços de restauração abre caminhos para soluções mais eficazes. Projetos que não apenas revegetam, mas também recuperam ecossistemas biodiversos, fortalecem os serviços ecossistêmicos essenciais, como os “rios voadores”, e promovem um futuro mais resiliente para o Brasil.

    [1] Referência completa:
    Pinto, Gustavo R. S., João Arbache, Luiza Antonaccio e Joana Chiavari. (Des)matando as Hidrelétricas: A Ameaça do Desmatamento na Amazônia para a Energia do Brasil. Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2024. bit.ly/Desmatamento-Energia.