Pensamos que a pesquisa científica ou desenvolvimento de produtos como uma linha reta. Primeiro, porque nossa imagem desses projetos é geralmente construída a partir do produto e é natural olhar para traz e visualizar apenas a linha reta, ignorando todas as outras opções que foram testadas e não avançaram. Segundo, ninguém quer imaginar a real quantidade de trabalho que terá em um desenvolvimento, então sonhamos com um mundo perfeito no qual todas as nossas hipóteses serão validadas na primeira tentativa e teremos um desenvolvimento linear.
No entanto, o processo de P&D é mais como um labirinto. Múltiplos caminhos podem levar a uma mesma solução, mas múltiplos outros caminhos não levam a lugar nenhum. Para dificultar a decisão, você pode saber onde está e saber para onde quer ir nesse labirinto, sendo a dúvida qual o melhor caminho, mas muitas vezes, legitimamente, você pode não saber direito qual sua posição nele.
Nesses labirintos, você precisa de dois tipos de pessoas. Um sprinter, um pesquisador que vai à frente no caminho selecionado, o mais rápido possível, para tentar ver o que está depois da curva: uma avenida aberta ou um beco sem saída? Uma porta aberta ou fechada? E depois um maratonista, um pesquisador responsável pela qualidade, que vai percorrer os caminhos identificados pelo sprinter mais devagar, verificando cuidadosamente se os caminhos pelos quais a equipe passará, são seguros, sólidos e consistentes. Se tem alguma passagem secreta, algum super poder, ou um alçapão ou monstro a espreita.
Abre parêntesis: Essas são as abordagens ‘fast and dirty’ e “slow and clean” amplamente discutidas na comunidade científica. A estratégia “fast and dirty” enfatiza a rapidez e a simplicidade na busca de respostas, enquanto a estratégia “slow and clean” se concentra na precisão e na rigorosidade. John Maynard Smith, que em 1992 introduziu a noção de “pesquisa rápida e suja” para descrever como os cientistas frequentemente usam métodos simplificados para obter uma compreensão inicial de um problema antes de se aprofundar mais, e tem sido amplamente aplicada na pesquisa em biologia de sistemas e inteligência artificial. A estratégia “slow and clean”, por outro lado, foi popularizada pelo físico e matemático Freeman Dyson, que argumentou que a precisão e a rigorosidade são cruciais para o avanço da ciência em campos como a física teórica e a química computacional. Fecha parêntesis
Em um labirinto desconhecido, é irrealista, e eu arriscaria inútil, tentar planejar o caminho para chegar ao final, e você precisa do ‘fast and dirty’ para identificar a próxima etapa. Mas você não desenvolverá um produto apenas com rápido e sujo, porque os fenômenos complexos não têm explicações simples. Depois de reduzir a incerteza para escolher um caminho, esse caminho deve ser perseguido de maneira ‘slow and clean’.
Fico pensando se o sprint e a maratona, o ‘fast and dirty’ e o ‘slow and clean’ ao invés de estratégias competidoras, não são duas partes de um mesmo processo, um tipo de ‘pulso’ de criação, com momentos (e movimentos) de expansão (durante o sprint) de hipóteses e contração de incertezas, sobre qual o melhor caminho para a inovação.
O labirinto também se contrai e se expande, e me faz lembrar o sistema circulatório, no qual o sangue sai de uma artéria, se bifurca em arteríolas, que viram capilares, que irriga os tecidos, é capturado por capilares venosos, que viram vênulas, que viram uma veia, que novamente se bifurca para permitir que o sangue seja oxigenado nos brônquios dos pulmões, que antes de novamente concentram em uma artéria, que de novo se bifurcará, em um ciclo de redução de incerteza.
Durante um pulso de pesquisa, o projeto é ‘expandido’ e várias possibilidades são exploradas, para depois ser ‘contraído’ quando as impossibilidades são eliminadas.
Se você tiver um sprinter e um maratonista na sua equipe, a velocidade e a qualidade estarão garantidas na medida certa. Apenas certifique-se de não deixar sua equipe comercial tomar decisões científicas. Em vez de ‘fast and clean’ (rápido e limpo), você pode acabar com ‘sloppy’(desleixado).