Por Mauro Rebelo

Cortando o mal pela raiz: a busca de uma solução tecnológica definitiva para o problema do mexilhão dourado

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Em agosto, a Bio Bureau participou da 2a etapa do processo de seleção de Soluções para o Mexilhão-Dourado da Klabin. No evento foram apresentadas mais de 30 ideias e 8 delas foram selecionadas para apresentação. Estávamos felizes de estar lá e curiosos também: quais seriam as outras ideias? Consideramos que tínhamos um bom conhecimento dos projetos em desenvolvimento com mexilhão, mas quando vimos os nomes dos outros apresentadores, não conhecíamos praticamente nenhum.

O evento foi em São Paulo no belíssimo Museu de Ema Klabin. Porém, os mexilhões estão no Paraná. Na parada de manutenção de 2020, na unidade de Puma, foram encontrados mexilhões na captação da água bruta, que tem vazão de 8.000 m3/h. O problema da Klabin é similar ao das muitas hidrelétricas com as quais trabalhamos. A captação de água bruta do rio para resfriamento é o primeiro check point da infestação. A água deve ser filtrada antes de entrar no sistema. A velocidade diminui, a superfície de contato e a temperatura aumentam e os mexilhões se aderem em grande quantidade.

Esses filtros precisam, então, ser limpos de tempos em tempos. Em geral, 1 vez por mês. Às vezes toda semana. O processo envolve pelo menos duas pessoas e interrompe a turbina da hidrelétrica por pelo menos 6h. 

Veja essa gravação que fizemos do processo de limpeza na usina de Tijoa, da CTG.

Controlar o mexilhão nesse ambiente é desafiador, mas é possível.

Na primeira força tarefa para buscar soluções de controle para o mexilhão dourado, em 2005 (organizada pelo MMA/MCT) as opções eram cloro (hipoclorito e dicloro), UV, tintas anti-incrustantes, substâncias químicas (aminas primária-quaternária) e ozônio.

Todas essas soluções são muito mais eficientes combatendo as larvas do que os adultos, que percebem quando existe uma substância química na água e fecham suas conchas. E eles podem ficar assim por muito tempo. Talvez seja mais fácil matá-los de inanição que pela substância tóxica. Mesmo nesse caso, nem todos se soltam da superfície. Inevitavelmente, a tubulação tem que passar por um processo físico de desentupimento. 

O Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, tem a sua tubulação de refrigeração com água da Baía de Guanabara desentupida fisicamente a cada 3 meses com a Roto-Rooter. O mexilhão é outro (porque a água é marinha), mas o problema é o mesmo. E quando conseguem tirar os mexilhões, forma-se uma montanha de resíduo biológico. O cheiro de mexilhões em decomposição é desagradável, apesar de existir tecnologia para o processamento e extração de compostos de alto valor agregado (como a heparina).

Mas mesmo antes de terminar a limpeza, novos mexilhões estão se agarrando de novo. A metáfora de enxugar gelo se aplica, mas não é perfeita. O gelo, pelo menos, não cresce de novo. Aí entram a maior parte desses produtos: matando as larvas para evitar que elas se incrustam nos filtros e tubulações. Todas essas soluções apresentam uma eficácia maior ou menor, com um custo benefício maior ou menor. 

Em 2013, publicamos um trabalho mostrando o potencial dos pesticidas microencapsulados para combater os adultos nas instalações industriais (Calazans et al., 2013). Porém, o custo dessas soluções sempre impediu a sua ampla adoção ou que ela avançasse para além dos testes piloto. Já o cloro, que tem baixo custo, esbarra na regulação: o processo de obtenção da licença para o uso é tão trabalhoso, que pode durar mais que o tempo de aplicação requerido no pedido.

Todas essas soluções visam resolver o problema em instalações industriais. É compreensível: o problema é específico e o cliente é bem definido. Entretanto, nenhuma delas resolve realmente o problema, mas ataca a causa. A maior prova disso é que a invasão do mexilhão continua se expandindo e a frequência das paradas de manutenção também.

Talvez o problema nas instalações industriais não possa ser resolvido sem antes resolver o problema no ambiente. Cortar o mau pela raiz: achamos que não há outra solução para o problema do mexilhão.

E essa é a diferença entre a nossa solução e as outras apresentadas no pitch day da Klabin. Queremos cortar o mau pela raiz e isso significa resolver o problema no ambiente e não apenas nas instalações industriais.