Vivemos em um mundo ágil. De acordo com o estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de San Diego, a informação duplica a cada 9 meses e segundo o Fórum Econômico Mundial, a meia-vida do conhecimento caiu para apenas 5 anos. É difícil imaginar que um negócio possa persistir sem inovar e se adaptar continuamente às novas tendências e tecnologias emergentes.
De acordo com a McKinsey Global Institute, o investimento global em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D) cresceu cerca de 5% ao ano entre 2013 e 2018, chegando a US$ 1,7 trilhão em 2018. Além disso, a globalização e a digitalização permitem que as empresas acessem talentos e recursos ao redor do mundo, criando um ambiente propício para a inovação. Ainda assim, a inovação é insipiente: um estudo da Deloitte mostrou que, em 2018, apenas 17% das empresas americanas disseram ter uma estratégia de inovação eficaz. Além disso, as regulamentações e barreiras comerciais podem criar obstáculos para a inovação, especialmente para as pequenas empresas.
A inovação é inevitavelmente arriscada. Uma pesquisa da Boston Consulting Group, em 2018, mostrou que apenas 1 em cada 3 inovações das empresas têm sucesso, e isso faz com que muitas empresas sejam avessas ao risco, mesmo que digam o contrário. uma pesquisa realizada pela PWC em 2019, mostra que 78% das empresas acreditam que a inovação é importante para o sucesso de sua empresa, mas apenas 25% delas dizem ter uma estratégia de inovação eficaz.
Na pesquisa global “Innovation Benchmark” realizada pela consultoria McKinsey, cerca de 60% das empresas afirmam enfrentar dificuldades em seus esforços de inovação, e apenas 20% das empresas consideram-se eficientes em inovação. Além disso, de acordo com um estudo da Harvard Business Review, cerca de 75% das empresas que inovam falham em monetizar suas inovações. Esses dados sugerem que existe um alto risco de falha na inovação e que muitas empresas podem não estar preparadas para lidar com esse risco.
Mas quem opta por não correr o risco da inovação, incorre em um outro risco: o de ser excluido do negócio por um competidor.
No entanto, o risco de não fazer nada talvez seja mais difícil de mensurar o que leva muitas empresas permanecerem onde estão até que seja tarde demais. Uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey & Company apontou que cerca de 75% das empresas que estavam entre as líderes de mercado em 1995 não estavam mais lá em 2015. Outra pesquisa, conduzida pela consultoria Innosight, mostrou que a média de vida das empresas listadas na Fortune 500 caiu de 75 anos em 1955 para menos de 15 anos atualmente. Esses dados apontam para a importância de as empresas se manterem inovadoras para não serem ultrapassadas pelos concorrentes e serem excluídas do mercado.
O caso com a inovação é portanto um caso de amor e ódio. Elas prefeririam não ter que fazer, mas não podem deixar de fazer. Ruim com ela, pior sem ela.
Na economia do conhecimento, é difícil imaginar inovação sem cientistas.
O método científico é a melhor ferramenta de resolução de problemas criada pela humanidade até hoje e o cientista é aquele indivíduo que, independente da sua área do conhecimento, domina o método científico e sua aplicação. De acordo com um estudo realizado pelo National Science Board (NSB) dos EUA, cerca de 80% das patentes registradas nos EUA têm pelo menos um inventor com formação em ciências, tecnologia, engenharia ou matemática (STEM). Além disso, uma pesquisa da Thomson Reuters mostrou que, entre 1996 e 2015, cientistas e engenheiros lideraram as patentes registradas em todo o mundo, representando cerca de 60% das patentes. Esses dados sugerem que a contribuição científica é fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias e inovações.
Mas a academia não é o lugar mais adequado para a inovação. E especialmente no Brasil, não é preparada para isso. De acordo com uma pesquisa da European Patent Office (EPO) de 2019, o Brasil ocupa a 39ª posição entre os países com mais patentes depositadas, embora as universidades brasileiras ocupem a primeira posição em número de patentes depositadas. Ainda assim, essas invenções geram pouca receita para as instituições, pois o licenciamento é ainda menor, de acordo com uma pesquisa da Agência Brasileira de Inovação (Finep) de 2017, apenas 2% das patentes depositadas no Brasil são licenciadas.
A indústria tão pouco seria o local mais adequado para a inovação, ainda que existam muitas indústrias que inovem. A indústria é caracterizada pela produção em escala, o que requer processos maduros, bem estabelecidos e controlados; para mercados idem. A inovação requer interação constante, invenção de coisas, revisão de métodos. Requer flexibilidade, agilidade. Espaço para o teste e a falha. Nada disso é bem vindo na indústria.” De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) em 2020, apenas 15,5% das empresas brasileiras se consideram inovadoras, e a maioria delas encontra dificuldades para implementar inovações devido a falta de recursos e capacitação.
Por isso, no mundo inteiro, a inovação acontece principalmente em pequenas empresas. De acordo com um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2018, cerca de 60% das pequenas e médias empresas (PMEs) são responsáveis por cerca de 85% dos novos empregos gerados por inovação no mundo. Além disso, de acordo com o estudo Global Innovation Index, publicado em 2020, as pequenas empresas são responsáveis por cerca de 34% das patentes registradas em todo o mundo.
No Brasil, no entanto, as pequenas empresas de base tecnológica são uma novidade recente e nosso ecossistema de inovação ainda não está plenamente estruturado para apoia-las. A lei de inovação no Brasil é a Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004), que foi regulamentada em 2005. A lei do investidor-anjo (Lei nº 13.964/2019) foi sancionada em 2019 e a lei das startups (Lei nº 14.129/2021) foi sancionada em 2021. De acordo com o relatório “Global Startup Ecosystem Report 2021” da Startup Genome, o Brasil aparece em 17º lugar em um ranking de competitividade global de ecossistemas de startups, atrás de países como Estados Unidos, China, Índia, Reino Unido, Alemanha e Canadá. O relatório também destaca que o Brasil tem uma das menores taxas de crescimento de startups de base tecnológica entre os países emergentes e uma baixa quantidade de investimento em capital de risco. Além disso, o país tem uma baixa quantidade de programas de incentivo e políticas públicas para apoiar o desenvolvimento de startups, em comparação com outros países.
Já os incentivos para inovação na industria são mais maduros. De acordo com dados do Ministério da Economia, a Lei do Bem (Lei nº 11196/2005) e os Fundos Setoriais (como o FINEP e o FNDCT) já movimentaram cerca de R$ 20 bilhões em investimentos em P&D e inovação desde sua criação, em 1997. De acordo com o relatório de 2019 da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), esses fundos têm contribuído para aumentar o investimento em P&D das empresas brasileiras e para o aumento do número de patentes registradas no país. Além disso, também tem sido importante para o fortalecimento de cadeias produtivas nacionais e para o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Talvez seja por isso que no Brasil criamos a expectativa que a responsabilidade pelo fomento da inovação seja principalmente da industria.
No entanto, o investimento da industria em P&D no Brasil é modesto. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, o investimento em P&D no Brasil foi de cerca de 1,2% do PIB. Entretanto, grande parte desse investimento foi realizado pelo setor público, como universidades e instituições de pesquisa, e não pelo setor privado. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o investimento em P&D no setor industrial no Brasil foi de cerca de 0,5% do PIB em 2017. Além disso, dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a Petrobras é responsável por cerca de 70% do investimento em P&D no setor de petróleo e gás no país. No entanto, é importante mencionar que esses dados podem variar de acordo com a fonte e o período de tempo avaliado. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Inovação (IBRINN) de 2018, a Petrobras investiu cerca de R$ 1,5 bilhão em P&D, o que representa cerca de 20% do total investido pela indústria brasileira.
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, em 2019, as concessionárias e permissionárias de energia elétrica investiram cerca de R$ 1,3 bilhão em projetos de P&D, o que representa cerca de 0,5% da receita bruta do setor. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a cláusula especial de P&D nos contratos de concessão de óleo e gás no Brasil, reguladas pela normativa ANP 33, tem gerado cerca de R$ 1 bilhão em investimentos em P&D anualmente. No entanto, é importante ressaltar que a eficácia desses investimentos em termos de geração de novos conhecimentos e tecnologias ainda é um tema de debate na literatura acadêmica.
Como poderíamos melhorar a inovação no país sem a necessidade de grandes modificações na infraestrutura e no arcabouço legal, tendo em vista que os atuais recursos e regulamentações já são considerados minimamente suficientes?
Uma forma de aumentar a inovação seria promover uma comunicação mais eficaz entre cientistas acadêmicos e profissionais da indústria. O local onde essa comunicação ocorre não é tão importante, seja na universidade, em startups ou na indústria. No entanto, para que essa comunicação seja bem-sucedida, é fundamental que cientistas e profissionais da indústria compreendam melhor as necessidades, objetivos, desafios, incentivos e limitações de cada parte.