Em projetos inovadores e de alta complexidade, não há receita para a execução. Não há regra de planejamento que consiga reduzir a incerteza associada a eventos que só podem ser esclarecidos de maneira empírica pela testagem.
Nesses projetos, mais do que construir o avião em pleno vôo, estamos tentando descobrir, em pleno vôo, o que é que está voando. A forma de fazer isso é estabelecendo visões do nosso produto que são como hipóteses a serem testadas. Com a execução, mesmo errando e pivotando, se aprendemos alguma coisa e podemos atualizar a nossa visão do produto com menos incerteza, então avançamos. Nossa execução se parece com um teorema da Bayes: o resultado de cada sprint é informação que corrige a nossa hipótese a priori e gera uma nova hipótese a posteriori do sprint.
Admitir a incerteza, talvez contra-intuitivamente, cria confiança, porque demonstra integridade. Nosso trabalho não é pegar uma joia bruta e lapidar. Ele está mais para construir e reconstruir. Nesse aspecto, o trabalho do cientista se parece com o do escritor. Como o grande orador Romano Horácio Flacco dizia:
Todo escritor deveria trabalhar 10h por dia: 2h escrevendo e 8h reescrevendo.
E o escritor israelense Amoz Oz:
Assim como o escultor, que quebra a pedra pra encontrar a escultura, o escritor apaga mais do que escreve
Assim, grande parte do nosso trabalho como cientistas é analisar e reanalisar e avaliar criticamente, uma vez após a outra, se os dados não estão oferecendo uma explicação alternativa melhor e se nossa visão do produto deve ser atualizada novamente.
A reconstrução pode parecer um desperdício, porque estamos jogando fora uma visão do produto atrelada a premissas que não eram verdadeiras. Às vezes, jogando fora resultados de experimentos e meses de trabalho. Mas não é desperdício quando o retrabalho nos ensina coisas novas e reduz a incerteza. Como em outras startups, nossa tolerância ao desperdício é muito, muito baixa.
A reconstrução requer então sabedoria para reconhecer a oportunidade de aprendizagem e coragem, porque só com coragem podemos nos libertar do medo de errar nessa decisão.
“Coragem não é ausência de medo, mas o triunfo sobre ele” (Nelson Mandela)
A reconstrução requer ainda um forte compromisso com a ciência e um grande respeito pelo dinheiro do cliente, que em última instância é dinheiro da sociedade brasileira.
Por isso, Na Bio Bureau, passamos um dia criando nossa visão do produto e todos os outros tentando desconstruir, disproves, destroçar essa visão, até que a conclusão que emerja seja sólida cientificamente e negocialmente. É assim que fazemos biotecnologia para os negócios.”